De algum modo entre Cecília e Drummond esqueci, ou quem sabe
impus quando Vinicius disse: “ Beleza é essencial.”
Porém, que tipo de beleza é essa que muda do dia para a
noite, que elege suas musas por dinheiro?
Que consome só pelo signo?
Talvez, eu não devesse culpar a ninguém.
Vinicius tinha a sua garota de Ipanema que saiu até no New
York Times e sua admiração por saboneteiras femininas.
Contou-me um lindo passarinho, que eu irradio luz, que eu
sou capaz de conseguir tudo o que eu quiser.
Queria eu enxergar como esse nobre passarinho, pois o
espelho anda de complô com o Vinicius e vive me cobrando que a beleza é
essencial.
Virei escrava de quem eu sempre repudiei.
Contaminei-me pela cegueira do dia a dia e do passado,
cansei de lutar pelo o que eu sou.
Tornei-me vazia, consumida pelas areias do tempo.
Aceitei passivamente tudo o que me foi oferecido ou imposto?
Ou os dois?
Fui me maltratando sem perceber e agora quero voltar, parar
fazer tudo de um jeito diferente. E olha, eu nem peço para voltar ao passado e
reconstruir um novo futuro.
Não sinto arrependimento dos dias em que me senti Deusa,
aliás, arrependimento vem dos dias que o lado humano me envolveu.
Foram nesses dias que eu fiquei mais vulnerável, foram
nesses dias que eu parei de me sentir forte e comecei enfim a sentir.
Se isso é bom ou ruim eu não sei. Só quero agora explorar
esse meu lado humano, aprender a viver com ele, não suprimi-lo e aceita-lo
também como parte de mim.
Entre Cecilia e Drummond eu passei minhas tardes mais jovens,
deitada e lendo poesia e me sentindo vulnerável sem sofrer em nada.
Mas quem passa pela vida em plena nuvem, não vive só ensaia
para a morte.
Vou lutar por mim, encontrar uma forma de enxergar e tocar
esse meu lado bom.
Eu o abandonei em algum lugar nesse labirinto que é crescer,
por proteção, por medo e agora sinto coragem para dar o outro lado do coração.
Feridas todo mundo carrega. Forte não é quem as esconde e
sim quem aprende a viver bem e feliz com elas.