terça-feira, 1 de março de 2016

Ecoando a alma em letras


Talvez, a verdade é que eu não tenha mais jeito mesmo.
E não importa o que eu assista ou leia sobre "aceite seu corpo/ ame-se / seu corpo suas regras", na boa? Foda-se.
Nessa sociedade nojenta vocês só é aceita e amada e aclamada e desejada se for magra.
Já começa nas lojas de roupa, que nunca têm um tamanho que te caiba, ou se tem, são estampas horríveis. Nem senhorinhas ousariam usar aquilo. Mas, por falta de escolha acabo sendo obrigada a escolher.
Sem falar de todos os dedos apontado para mim, já que não tem como esconde minhas gorduras, elas ficam aparentes, dando oi e pedindo dá licença, preciso de espaço a todos. E quando as pessoas dizem: É questão de força de vontade, se vocês quiser mesmo, vocês consegue.
Claro, já que eu devo amar muito ser gorda para continuar sendo.
Talvez eu me vitimize demais, talvez realmente eu só precise lutar, e pegar essa força totalmente de mim e de mais ninguém.
Leio blog de meninas com Ana/Mia para me inspirar, mas aquela magreza também é nojenta, é doentia, me sentiria mal naquele corpo também.
Nem de Barbie eu gostava, eram muito pequenas eu preferia as bonecas Susi, elas tinham um corpo mais "normal".
Mas, fico pensando se eu chegar a ter o corpo que eu desejo. Como será? E se eu chegar lá e sentir que , porra, nada mudou. Que isso não revolveu toda a minha vida. Okay, pelo menos eu vou estar magra. Só que eu sempre desconto tudo na comida. Afinal, ela não me cobra nada, ela me acalma, me ouve, não me critica, e eu só preciso degustar para me sentir bem. Sinceramente ainda não percebi essa história que exercício físico tem o mesmo resultado químico que o chocolate, que solta serotonina e dopamina e todas essas "inas" que nos deixa lá em cima.
Fico pensando se um corpo magro, não me deixaria mais presa a tudo, como gorda ninguém me olhar ou me deseja e isso é bom, silencia os "fiu, fiu/ gostosa" afasta o medo de ser atacada na rua, embora não livre dos não menos nojentos "encochamentos no metrô". Mas, também me priva de ser desejada por alguém que eu queira que me deseje ou de me sentir livre para permitir que o outro me deseje.
Talvez meu namorado até me deseje mesmo, mas eu não consigo acreditar, já que eu não me acho desejável.
E também é cada pérola que sai da boca dele frequentemente que fica difícil acreditar quando ele diz que me ama.
Do tipo: "eu que devia ter odiar, você disse que iria emagrecer, mas só está engordando" quem diz
isso quando ama ou deseja de fato alguém. ou outra " Aquela sua amiga é mais bonita que a Scarlett" e isso ecoa incessantemente na minha mente.
Até nas horas que estou ali em pé no metrô, observando o nada, isso me invade, me toma o corpo e me esfaqueia.
Mas, ninguém me vê sangrando, sou só mais uma gorda.
Parece que gorda é sinônimo de saco de pancadas. Sim, eu te ouvi babaquinha da balada que disse "O que tem ela ser gorda? Vou pegar, pelo menos não fico sem pegar ninguém" e sim, seu mauricinho do metrô ouvi quando ao esvaziar o lugar ao meu lado você comentou "não vou sentar, só de sentar pode dar azar".
Como se eu fosse uma aberração humana.
Obrigada à todos por fazer meu dia melhor.